Game simula a vida de agricultores na África

Adriano Liziero

Adriano Liziero

Editor | Geógrafo

19 de setembro de 2011

Game 3rd World Farmer (Agricultor do Terceiro Mundo) simula a vida de agricultores na África Subsaariana

A pequena granja instalada na savana africana, onde sobrevive com extrema dificuldade uma família de quatro pessoas, acaba de receber uma dura notícia. Pouco depois da colheita, uma guerra civil eclode no país. Por não tomar partido, o patriarca vê sua pequena granja saqueada pelos dois grupos rivais, ficando na miséria quando a luta chega ao fim. Não há comida ou dinheiro suficiente para as necessidades básicas. A saúde da família é péssima. Dias depois, Eshe, a esposa, morre vitimada pela fome.

Uma empresa química oportunista oferece um acordo aos miseráveis. Em troca de algum dinheiro, a família concorda em arrendar parte de sua terra para armazenar produtos químicos.  À frente do jogo, não vejo outra alternativa senão aceitar a proposta. Com os poucos recursos recebidos, decido plantar milho, trigo e algodão, além de comprar medicamentos para a debilitada saúde do patriarca. Porém, as condições climáticas adversas acabam por arrasar grande parte da lavoura.

Um dos filhos, com oito anos de idade, pede permissão para tentar ganhar algum dinheiro numa vila distante. Caso eu concorde, receberei recursos para o sustento da família, mas perderei a mão de obra infantil na granja. Essas são algumas situações que conheci jogando 3rd World Farmer durante dez minutos. Escolhas difíceis retratadas pelo jogo permeiam a vida de milhões de pessoas na África e em outras regiões empobrecidas do mundo.

O agricultor do terceiro mundo – nome traduzido do jogo – foi desenvolvido em 2005 por estudantes dinamarqueses da Universidade de Copenhagen. Diferente da fazenda virtual Farmville – o famoso jogo do Facebook, onde, entre uma colheita e outra, o jogador interage com os outros usuários enquanto, na maioria das vezes, vê a sua lavoura prosperar -, o 3rd World Farmer traz o desafio de sobreviver numa situação onde, por dia, 24.000 pessoas morrem de fome no mundo todo.

“Assim como pessoas reais estão morrendo de inanição em situações desesperadoras, onde não pediram para serem colocadas, tudo o que é necessário para as coisas irem mal neste jogo é uma má colheita, um infeliz encontro com funcionários corruptos, uma flutuação repentina nos preços de mercado ou qualquer outra situação que, num país industrializado, não vitimaria famílias inteiras”, diz a equipe que desenvolveu o game.

O objetivo do jogo, segundo os idealizadores, é abrir os olhos das pessoas para os problemas enfrentados pelos países pobres, ainda que os jogadores vivenciem um cenário inofensivo de ficção. Na sala de aula, o professor pode aproveitar o enredo do jogo para discutir a fome e a pobreza no mundo, com destaque para o continente africano.

É possível, também, levantar questões pertinentes à modernização do campo, como a maior subordinação dos camponeses de países empobrecidos às intempéries, o que não ocorre, em geral, nos países desenvolvidos, onde há grandes investimentos em tecnologia, além de subsídios do governo à produção. O trabalho infantil e a migração também são outros assuntos retratados no jogo. No Google notícias, é possível pesquisar reportagens atuais sobre esses temas, trazendo ainda mais elementos para a discussão, além de deslocar a questão do jogo para a realidade.

Uma outra sugestão é pedir para que os alunos joguem também o Farmville e que comparem as situações encontradas nos dois games. Inclusive, é preciso levar em conta que os propósitos dos jogos são bastante diferentes, embora em ambos exista uma ideologia predominante.

A jogabilidade do 3rd World Farmer é bastante simples e intuitiva. O único porém é com relação ao idioma, pois só há versões em inglês, espanhol e dinamarquês. Pode ser uma boa oportunidade, no entanto, de trabalhar em conjunto com os professores de línguas, caso haja esse recurso.

O jogo começa com o cenário da granja, onde é possível ver a família disposta ao lado casa. Você deve administrar o dinheiro, de modo a adquirir cultivos, animais, ferramenta e equipamentos. Após implementar as suas escolhas, basta clicar na seta de seguir. Ao final de um ano, evidenciado pela transição das folhas do calendário na tela, o jogador é informado sobre o êxito ou não da granja, de acordo com os acontecimentos.

Você terá que tomar algumas decisões, quando questionado ao longo do jogo. Ao clicar nos personagens da família, é possível ver os seus nomes, atributos e condições de saúde. Fique atento a isso, pois negligenciar a saúde dos seus personagens pode vitimá-los.

Embora eu tenha me esforçado para sobreviver no 3rd World Farmer, o jogo terminou depois de quinze minutos com a seguinte mensagem: “Todos morreram ou deixaram a granja. Você suportou as penalidades do terceiro mundo por inacreditáveis 19 fases”. Logo abaixo, um link deixa claro que não se trata apenas de um jogo, mas da dura realidade de milhões de pessoas: “Clique aqui e veja como fazer a diferença”.

Serviço:

3rd World Farmer: http://www.3rdworldfarmer.com/index.html

É preciso esperar o jogo carregar enquanto a tela exibe um anúncio publicitário.

Farmville: http://www.facebook.com/FarmVille

Adriano Liziero

Adriano Liziero

Editor | Geógrafo

Estudei Geografia influenciado pela experiência de viver em Angola, país que despertou em mim a vontade de compreender o mundo. Trabalho como autor e editor no mercado editorial de didáticos e sou documentarista de meio ambiente.

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