Viagem a Galápagos: um relato geológico

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Redação

23 de junho de 2017

Texto: Leandro Thomaz, geólogo e vulcanólogo.

Que atire a primeira pedra quem nunca atrapalhou um passeio de lazer para olhar uma rocha ou tentar entender determinada formação geológica.

Aliás, se você se identificou com isso, talvez você não atire mesmo a pedra. Pelo contrário, talvez a guarde em seu bolso, e quem sabe até a enrole em um pedaço de fita crepe, com o nome do local anotado…

Se, além disso, você planeja suas férias para visitar chapadas sedimentares, vulcões e regiões orogenéticas… bem… sinto lhe informar, mas talvez você seja um apaixonado por geologia. Quem sabe até já arrastou seu pai para procurar minerais, ou levou seu filho para ver cavernas (ok, desculpe, acho que me empolguei um pouco…).

Aprender geologia é algo transformador, faz com que enxerguemos a Terra como um organismo vivo, viajando pelo universo.

Charles Darwin, certa vez escreveu:

E concordo com ele: cada canto de nosso planeta possui tanta informação a ser descoberta quanto no universo.

Essa motivação pela geologia, ou por nossa profissão, nem sempre é continua em nossas vidas. Mas para manter essa chama acesa basta ter o combustível certo. O que funciona para mim é aprender e viajar. Por isso quero compartilhar esse texto sobre minhas férias (geológicas) em Galápagos.

8 dias em Galápagos

Galápagos é um arquipélago vulcânico ativo. É famoso por suas espécies endêmicas que ajudaram Charles Darwin a escrever sua teoria evolutiva pela seleção natural. Se a geologia fosse tão difundida quanto a biologia, nós nos lembraríamos de Galápagos como o berço da petrologia ígnea, pois foi lá que Darwin percebeu que as características químicas dos magmas eram modificadas pelo afundamento de cristais.

O arquipelago é muito grande! Como comparação Fernando de Noronha possui 26 km2 enquanto Galapagos possui 45.000 km2… é quase meia Islândia!

Existem dois meios principais para conhecer Galápagos: 1) Por barco/cruzeiro; ou 2) por terra/hotel. Cada um tem suas vantagens e desvantagens. O ideal mesmo é fazer os dois (claro, se você tiver tempo e dinheiro).

O Roteiro

Eu fiz um roteiro por terra, pois tentei fazer um roteiro em família que fosse confortável. E também porque achei os preços dos cruzeiros muito caros… Se você optar por cruzeiro, busque por “last minute cruizes” porque aparecem uns cruzeiros mais baratos, principalmente se você tiver como viajar de “última hora”. A vantagem dos cruzeiros é que você percorre muitas ilhas, algumas inclusive só são acessadas desta forma. Além disso, o barco se desloca durante a noite, o que economiza muito tempo.

Por terra, você fica limitado a três ilhas: Santa Cruz, San Cristobal e Isabela. As duas primeiras tem voos comerciais para lá. E Isabela tem um pequeno aeroporto para avião tipo Charter.

Eu fui de Lan até Guayaquil e de lá peguei o voo até Santa Cruz. Fiquei dois dias em Puerto Ayora, na ilha de Santa Cruz, que é o maior vilarejo de Galápagos. A capital do arquipélago fica na Ilha de San Cristobal, é o pequeno vilarejo de Puerto Baquerizo Moreno.

Em Santa Cruz tem alguns passeios interessantes. É possível ver crateras de subsidência (pit craters), cavernas de tubos de lava, tartarugas (e criadores de tartarugas), praia com iguanas (tortuga Bay), além de muitas espécies de pássaros e plantas.

Ilha Santa Cruz

Crateras de colapso/subsidência

Um dos locais que visitei foi os “gêmeos”, que são duas crateras de colapso (pit craters) muito parecidas entre si. Crateras de colapso/subsidência vulcânicas são formadas pelo colapso do teto de derrames, ou de soleiras/câmaras magmáticas após o seu resfriamento. Pequenas crateras são comuns em derrames basálticos, mas eu sinceramente não imaginava que poderiam ser tão grandes e verticalizadas como os “gêmeos” na Ilha de Santa Cruz.

Estação de pesquisa Charles Darwin

Fica em Puerto Ayora. Tem um caráter mais educativo, com diversos posteres e guias explicando sobre a diversidade de espécies das Ilhas. É possível ver algumas tartarugas e iguanas, e o trabalho dos pesquisadores para reproduzi-los em cativeiro. Esta estação de pesquisa é menor do que a da Ilha Isabela.

Obs: Sabia que existe uma espécie de tartaruga única em cada uma das quatro ilhas principais? E o casco delas é completamente diferente.

Obs2: Darwin não percebeu que as tartarugas eram diferentes em cada ilha.

Ilha Isabela

Para ir para Isabela peguei uma lancha em Puerto Ayora (ilha de Santa Cruz), que demorou cerca de 3 horas para chegar em Isabela… e foi um verdadeiro inferno…

As ondas do Pacífico são muito fortes, e como o barco era pequeno, o impacto era grande…
Obs: Pra voltar peguei o avião! =D

A chegada na ilha foi deslumbrante: pinguíns, leões marinhos, iguanas e muitos vulcões!

Vulcão Sierra Negra

Peguei um tour para o “vulcão Chico” que corresponde a erupção de 2006 do Vulcão Sierra Negra. É uma caminhada de 5 horas que vale muito a pena. É possível observar vários depósitos do tipo Spatter, derrames variando de pahoehoe a aa, além de cavernas vulcânicas e suas crateras de colapso. Do alto é possivel olhar a imensa cratera do vulcão Sierra Negra – são mais de 6 km de diametro! Mesmo do alto é possível identificar estruturas associadas a derrames rubly e pahoehoe.

Vista do “mar de lava” dentro da cratera do vulcão Sierra Negra:

E é claro, depósitos do tipo spatter, que parecem ter sido expelidos ontem. Observe como o fragmento juvenil de lava se amoldou ao substrato e escorreu:

Conteúdo originalmente publicado em https://goo.gl/kaf1TQ sob licença padrão do LinkedIn. Este conteúdo não está sob a licença do blog Geografia Visual. O texto foi publicado com autorização expressa do autor.

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