Educa Party: games na educação

Adriano Liziero

Adriano Liziero

Editor | Geógrafo

9 de fevereiro de 2012

Debate sobre games na educação, realizado na Campus Party.

Os jogos educacionais não são divertidos. Esse foi o comentário mais falado entre os participantes do debate sobre games na educação, que aconteceu hoje (09/02/12), na Campus Party. “É melhor pegar a mecânica clássica de um jogo divertido e aplicá-la aos conteúdos educacionais”, disse Luciano Meira, da UFPE e da Olimpíada de Jogos Educacionais.

Para a professora Lynn Alves, da UNEB, não adianta levar os games para a sala de aula se os professores não forem treinados para usar a tecnologia aliada à educação. Ela participou de uma experiência de treinamento de professores com o Nintendo Wii, uma tecnologia que utiliza os movimentos do corpo para interagir com o game. “Foi uma experiência diferente, pois os professores se divertiam errando”.

Os games, educacionais ou não, já estão transformando a forma como os estudantes aprendem. Muitos jogos comerciais, como o SimCity, onde o jogador assume o papel de prefeito, tendo que tomar decisões para administrar uma cidade, estão ensinando os alunos fora da escola, defende Luciano Meira. “Os alunos do fundão estão jogando durante a aula chata”.

Lazer e educação

Embora o uso dos games na educação seja uma discussão atual, o que contribui para que essa ferramenta não seja tão popular no ensino formal faz parte de uma discussão antiga: a relação mal resolvida entre o lúdico e a aprendizagem. Antes de discutir os jogos educativos, é preciso incorporar o lazer à educação, pois os jogos, educativos ou não, têm um princípio básico: a diversão.

Muito antes dos jogos eletrônicos existirem, o nossos pais e avós cresceram brincando de pega-pega, amarelinha, jogos de tabuleiro… Desde essa época, os jogos e as brincadeiras tiveram pouco espaço na escola. Não é surpresa que o mesmo ocorra hoje com os games. Antes de aprender a usar a tecnologia dos games, é preciso aprender a brincar.

Quando eu estava no primeiro ano da faculdade de geografia, fui monitor ambiental numa unidade de conservação. Recebia escolas que iam ao parque fazer atividades de estudo do meio. Os alunos chegavam muito animados ao parque, querendo correr, explorar o lugar, conversar, enfim, fazer tudo o que eles não podiam na sala de aula

No entanto, a maioria dos professores não permitia esse tipo de comportamento lúdico, considerado inadequado para um ambiente de estudo. A trilha no meio do mato, então, virava uma sala de aula tradicional. A ambientação, o convívio, era prejudicado pelas palestras que os monitores proferiam nas trilhas, chamadas de didáticas.

Educação e tecnologia

O momento mais importante do debate de hoje foi protagonizado por um campuseiro. George Gomes, professor de filosofia da rede pública do Ceará, subiu ao palco para problematizar não apenas o uso de jogos na sala de aula, mas a relação entre a educação e a tecnologia.

Num evento como a Campus Party, é natural que o foco seja mesmo o uso da tecnologia. No entanto, será mesmo preciso de uma tela de computador, de um jogo, para, por exemplo, fazer com que as pessoas dancem? “As pessoas não precisam estar em frente a uma tela para dançar. A dança é uma manifestação cultural da sociedade”, disse o professor George.

Concordo com a opinião do professor George de que as discussões sobre o uso do game na educação devem começar pelo lado da educação, não do game. Parece algo elementar, mas a tecnologia é um produto, um meio para as ações da sociedade. Esse é o grande desafio da Educa Party, o de discutir a tecnologia por meio da educação, e não apenas o contrário.

Adriano Rangel, da Campus Party.

Adriano Liziero

Adriano Liziero

Editor | Geógrafo

Estudei Geografia influenciado pela experiência de viver em Angola, país que despertou em mim a vontade de compreender o mundo. Trabalho como autor e editor no mercado editorial de didáticos e sou documentarista de meio ambiente.

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