Como roteirizar um objeto educacional digital
Para produzir um objeto educacional digital hipermídia, como um game ou um infográfico digital, temos que elaborar um projeto. Nesse documento, chamado de roteiro, definimos as estratégias (digitais, didáticas) que iremos adotar para atingir o objetivo educacional proposto.
Não tem segredo: um bom objeto educacional digital é resultado de um roteiro bem elaborado. Mas, o que considerar ao desenvolver um roteiro para as mídias interativas? Nesse artigo, compartilho um pouco da minha experiência no desenvolvimento de roteiros hipermídia para o mercado editorial.
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O que é e para que serve o roteiro hipermídia?
O roteiro é o elemento mais importante do processo de produção de um objeto educacional digital, pois cumpre a função de simular o produto hipermídia idealizado. Ele deve permitir uma pré-visualização fiel do objeto educacional digital por todos os envolvidos no processo (editores, designers, autores, programadores, ilustradores, locutores, etc.), apresentando a informação passo a passo, da maneira mais clara possível. Para isso, o roteiro deve conter todos os hipertextos, sons, imagens, além de detalhar a interatividade e a arquitetura da informação.
A narrativa digital, e não apenas o texto, é o conteúdo didático do roteiro hipermídia.
No livro didático impresso, o texto é o elemento articulador do conteúdo. As imagens, gráficos e mapas, embora cada vez mais relevantes nos livros em papel, são conduzidos pela narrativa textual linear.
No roteiro hipermídia, os hiperlinks são os elementos articuladores do conteúdo. O usuário pode navegar por imagens, gráficos, mapas e textos de forma multissequencial, construindo a sua própria narrativa. Daí a complexidade em elaborar um roteiro que inclua essa rede de informações estruturadas pela interatividade.
O roteirista pensa na forma como os conteúdos (imagens, sons, textos) chegarão ao usuário, quais caminhos ele irá percorrer por meio dos hiperlinks, e como ele responderá a esses conteúdos. O conteúdo didático, portanto, não se resume ao texto. O roteirista é um designer-escritor.
6 estratégias fundamentais para a roteirização hipermídia
1. Desenvolver interfaces intuitivas, com design centrado no usuário
Os objetivos educacionais não serão atingidos caso o usuário encontre dificuldades para compreender como navegar no objeto educacional digital. Hoje, os manuais de utilização dos produtos, sistemas e serviços estão cada vez mais concisos, uma vez que a aprendizagem do uso tem privilegiado a experiência do usuário. O ideal é que o aluno perceba como interagir com as informações do objeto educacional digital sem necessitar recorrer ao botão de ajuda. Para garantir uma boa experiência, a ajuda deve ocorrer em contexto, integrada à dinâmica de navegação.
2. Escrever para as mídias interativas
A escrita web deve considerar o agrupamento de textos em meio digital, as possibilidades de conexões por links entre conjuntos de caracteres e a leitura não linear. O texto do livro impresso, caracterizado pela linearidade, demarcação, estruturação, estabilidade e encadeamento serve como argumento para o roteiro hipermídia, sendo necessário transformá-lo em hipertexto.
3. Integrar imagem, som e texto
No roteiro hipermídia, imagem, som e texto estão em sincronia. É preciso atentar para princípios como redundância verbal, sinalização, uso das cores. Além disso, é necessário garantir que imagem, texto e som operem em parceria, sem repetições desnecessárias e sobreposições. A estratégia de locução, o traço da ilustração, a disposição dos elementos na tela, o conceito visual da informação são conteúdos didáticos, pois estão relacionados ao objetivo pedagógico do roteiro hipermídia.
4. Possibilitar experiências interativas
A interatividade pode ser definida como a junção da comunicação com a possibilidade de escolha pelo usuário. O objetivo educacional de um roteiro hipermídia é desenvolvido levando em conta o acesso não linear às informações e a construção de novas e múltiplas narrativas, entre outros aspectos. Um vídeo em que o aluno apenas assiste é diferente de um hipervídeo onde o aluno pode escolher os caminhos da narrativa e o seu desfecho. A diferença não é apenas de linguagem, mas de estratégias didáticas para alcançar determinado objetivo educacional.
5. Definir o tipo de mídia interativa
A escolha de um infográfico, um game, um vídeo ou qualquer outro tipo de mídia para abordar um determinado conteúdo com foco em objetivos educacionais claros é uma opção didática. Cada tipo de mídia possibilita uma maneira diferente de interação com o conteúdo. O roteiro hipermídia apresenta as estratégias instrucionais adotadas, de modo que o editor deve verificar se o tipo de mídia escolhido facilita a aprendizagem de acordo com os objetivos almejados.
6. Prototipar
Um bom roteiro hipermídia utiliza a comunicação visual em sinergia com a narrativa textual, inserindo protótipos de tela e imagens de referência, além de instruções objetivas e claras para toda a equipe multidisciplinar envolvida. Dessa forma, é possível antever com precisão o resultado final, isto é, como vai ficar o objeto educacional digital. Um roteiro vago, que adia decisões importantes para as fases de programação, ilustração não permite uma análise segura do design educacional do objeto digital. O resultado disso, na maioria das vezes, é retrabalho e perdas de tempo e dinheiro, além de baixa qualidade.
Para começar a roteirizar
Se você não é um roteirista, mas se interessa pelo assunto e deseja elaborar roteiros, a dica é consumir mídias interativas, explorando novas possibilidades e pensando na forma como o produto foi roteirizado. Assim como ler é uma atividade indispensável para o escritor, navegar pelas novas mídias é uma necessidade de quem as roteiriza.
Como inspiração, conheça o documentário interativo Inside Disaster, que traz uma experiência imersiva durante o terremoto que devastou o Haiti. Durante o filme, você terá que tomar decisões que mudam a narrativa da história.